
Neste Triste mundo, aos trancos e barrancos, Raul Seixas botou prá ferver. Achou graça do palhaço do banquete. Foi para a cidade maravilhosa ver a hora do trem passar; porém a grande piada é que lá passou fome por dois anos. Não encontrou ouro de tolo nas minas do Rei Salomão. O moleque maravilhoso vacilou com o rock das "aranha" e só prá variar, nos anos 80 tentou alugar o Brasil. Conservou o seu medo, mas sempre ficou sem medo de nada. O cowboy fora da lei foi a própria metamorfose ambulante; uma paranóia que lhe rendeu muitas aventuras na cidade de Thor. O negócio foi descobrir o segredo do universo, entre Deus, e o Diabo - o pai do rock. Disse não mais querer andar na contramão, mas pegou o metrô linha 743 rumo ao século 21 e cantou para tanta gente a sociedade alternativa - à sombra sonora de um disco voador – que teve que dar uma saída para os Estados Unidos em 74. O carimbador maluco foi a autêntica mosca na sopa que abusou e perturbou o sistema. Raul simplesmente não suportava a realidade. Escreveu a lei na pedra do gênesis e com a panela do diabo, mostrou a todos a receita do bom e velho rock´n roll. O carpinteiro do universo descobriu que a verdade sobre a nostalgia é esperar o dia da saudade sem medo da chuva. Entre outros caminhos, Raul queria mesmo saber que luz era aquela, no dia em que a terra parou. Pegou o trem das sete e viu o mal vir de braços e abraços com o bem num romance astral. O trem passou e o barco vai. Há dez mil anos atrás aprendeu começar tudo de novo e tentar outra vez. A morte que caminhava ao seu lado, pode ser o grande segredo da vida. Todo mundo explica as profecias, mas é apenas conversa prá boi dormir. Não caiu no conto do sábio chinês, porém aquela coisa causou muita cãimbra no pé com o sapato 36. O maluco beleza partiu no dia 21 de agosto de 1989. A charrete da sociedade alternativa perdeu o condutor, mas a estrela não se apagou. O novo aeon aguarda outro super herói que faça, fuce e force; não pare na pista, porque o bom., como vovó já dizia, usa óculos escuros e faz o que o diabo gosta em nuit de luz cheia.
Raul morreu cedo mas viveu muito. Lutou por sua causa existencial, o sonho da sociedade alternativa. Pregava a qualquer custo a filosofia crowleyana: "Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei." Se você não está dentro da sociedade alternativa, a sociedade alternativa sempre esteve dentro de você. Agora, ele faz parte da nossa cultura, porque os homens passam, as músicas ficam.
Edição 065 - Agosto de 1999.